Aquaman é ousadia, alegria, muito carisma e fôlego novo para a DC nos cinemas

Quando um filme é bem planejado, feito pacientemente e conta uma história convincente sem ter a pressa de desenvolvê-la, tudo dá certo, até o que você achava que não funcionaria nele se torna irrelevante ante a tudo o que você acabou de assistir e o resultado final é surpreendente. Esta é a visão geral que tive ao assistir Aquaman, a mais nova aposta da Warner/DC nos cinemas – e que finalmente entrega algo digno depois de três filmes abaixo do esperado (Batman Vs. Superman, Esquadrão Suicida e Liga da Justiça) e um apenas bom (Mulher-Maravilha).

Porquê digo isso? Pelo simples fato de que Aquaman vem na contramão dos demais que citei acima, primeiro de tudo ele é um filme que não precisa dizer que é parte de um universo maior e que tem outros heróis que o cercam, e esse é um dos seus principais trunfos, já que apenas uma vez no filme é citado algo relacionado ao universo DC e ela sai de forma orgânica e não artificial igual vimos no terceiro ato de Batman Vs. Superman quando um a um dos heróis pausadamente é apresentado, aqui acontece num diálogo natural entre Arthur (Jason Momoa, esbanjando carisma) e Mera (Amber Heard) bem como a origem do personagem que é apresentada em flashbacks sem interromper o andamento da narrativa e a montagem de Kirk Morri é hábil ao fazê-lo.

Você nota que houve cuidado ao criar o universo de Atlântida quando há um belo design de produção mostrando a diversidade dos sete reinos, e é incrível o quão colorido e bioluminescente é, assim como cada veículo utilizado nas profundezas do oceano assemelha-se a alguma criatura marinha, bem como os animais marinhos que os soldados atlantes montam – como tubarões e cavalos-marinhos full size e uma várias outras diversidades de criaturas. Também foi um alívio ver a maneira como funciona a comunicação deles debaixo d’água – principalmente sem se valer do artifício utilizado previamente em Liga da Justiça – de usar as bolhas para poder se comunicar, algo que aqui não foi preciso fazer toda hora para os personagens conversarem.

Vemos que James Wan – mais conhecido pelos seus filmes de terror, mas que dirigiu dois filmes fora desse gênero (Death Sentence Velozes e Furiosos 7) –  ganhou liberdade para empregar seu estilo de direção aqui, abusando de planos sequências nas cenas de ação e a que mais chamou a atenção – por nos pegar desprevenidos – e por praticamente abrir o filme e mostrar ao que veio com a Rainha Atlanna (Nicole Kidman) lutando com guardas de Atlântida, numa sequência que deixa sem fôlego e nos surpreende demais por ser algo não usual na carreira da atriz e é divertido vê-la em ação e o jogo de câmeras dentro de um pequeno ambiente de forma dinâmica passando a sensação de que foi feita em apenas um take.

Só pela motivação de querer acabar com a superfície, nos faz entender o porquê Orm (Patrick Wilson em mais uma parceria com o diretor) figura na posição de um dos melhores vilões da DC neste universo cinemático – por não ser feito em CGI vagabundo igual aos vilões dos filmes anteriores do estúdio – já que os humanos poluem seu lar destruindo fauna e flora marinha, teria algo mais coerente do que devolver tudo de volta? E a cena que uma enorme onda cobre as cidades costeiras já denuncia que ele não está errado e a mensagem é sutil sem soar panfletária, e o roteiro mostra novamente como tudo ali soa orgânico – parabéns Will Beall.

Dentre todas as cenas – que são de encher os olhos – uma em especial no terceiro ato, quando Arthur e Mera estão na região das Fossas o filme ganha ares de filme de terror, e o know-how do diretor com o gênero e suas convenções acaba por nos entregar o ponto mais alto do filme, e o design das criaturas abissais é assustador e ao Arthur acender o sinalizador para adentrar a fossa abissal é um dos momentos mais lindos do filme cinematograficamente falando.

Os únicos pontos que devo salientar mesmo que negativos e não prejudicam a narrativa em sua completude são: O desenvolvimento do personagem Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) que é praticamente zero, assim como o momento da sua transformação no nemesis do herói nas HQs – destoando totalmente da maneira que o filme vinha sendo levado; e por fim a química entre o casal protagonista, que não é 100% crível e apela para o clichê do “casal que não se dá bem, mas ao final terminam juntos”. Mas como disse eles não prejudicam o bom filme que Aquaman é, principalmente por ter tido a ousadia de mudar a abordagem e destoar dos filmes anteriores, por criar um universo vasto e fantástico e o melhor de todos, por ter se desprendido das amarras chamadas Zack Snyder o que tornaria o filme datado, repetitivo e mais do mesmo, por isso reitero o que falei no início desse texto: Quando o filme é feito pacientemente e bem planejado o resultado é o que vimos ao fim das duas horas de Aquaman.

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