Ultimamente tem acontecido um fenômeno em relação aos filmes – e séries produzidos pelo serviço de streaming Netflix: A qualidade destes. Questiona-se muito devido ao fato da empresa vir priorizando quantidade e esquecendo da qualidade de outrora, já que há filmes do quilate de Beasts Of No Nation que é equiparável a qualquer filme de estúdio grande, pois há qualidade nele, seja estruturalmente ou em roteiro. Posto isso, nessa semana que antecedeu ao natal a locadora vermelha disponibilizou o filme Bird Box para os seus assinantes, e bem…o resultado não foi o esperado, mas digo isso a partir do que vi nas pouco mais de duas horas e lhes digo nos parágrafos seguintes o porquê.
Antes de mais nada o filme é uma adaptação do livro homônimo escrito por Josh Malerman, dirigido por Susanne Bier (Vencedora do Oscar pelo belíssimo Em Um Mundo Melhor) e roteirizado por Eric Heisserer (Da elogiadíssima ficção científica, A Chegada), o filme é um drama/thriller apocalíptico onde vem acontecendo uma onda de suicídios ao redor do mundo, tudo de maneira inexplicável, pois ela é resultante do desconhecido – a pessoa ao ver algo (não sabe-se ao certo se é uma criatura, uma entidade ou uma força) perde a sanidade e não aguenta o que fora visto e força-se a se matar. Até que isso chega a cidade da protagonista Malorie (Sandra Bullock), uma mulher grávida que se envolve num acidente – causado em decorrência disso e que após o surto se abriga numa casa com outras pessoas que não estão entendendo o que acontece. Pegando essa sinopse pode-se dizer que apesar de um tanto clichê – pois já vimos situações semelhantes em filmes como: Eu Sou A Lenda (uma cura se torna um vírus que dizima praticamente toda a humanidade e apenas um homem busca sobreviver ante essa situação), O Nevoeiro (após um evento que cobre toda a cidade num nevoeiro, pessoas se refugiam num ambiente fechado para escapar do desconhecido) e Fim dos Tempos (pessoas começam a se suicidar coletivamente sem motivo aparente)- daria pra sair algo de bom ainda assim.
Com os nomes envolvidos neste filme e as situações semelhantes dos outros citados de alguns anos atrás poderíamos esperar algo no mínimo satisfatório, mas infelizmente o filme segue um caminho totalmente diferente e não satisfaz, principalmente por ficar perdido e não dar espaço para desenvolvimento dos personagens, para criarmos empatia por eles, inicialmente tem um casal de jovens que se odeiam e meia hora depois estão transando e mais um curto espaço de tempo depois fogem e diferença alguma faz a narrativa, outro problema é sempre o clichê da pessoa que cria uma história para explicar o que está acontecendo e no fim tudo o que ela disse em nada contribui para o andamento da história e sem contar quando a contagem de corpos aumenta e você pouco se importa, pois sequer houve tempo para se importar, as idas e vindas no tempo que permeiam a narrativa também quebra esse envolvimento, pois você é transportado para uma situação distinta que te desprende da anterior.
Mas o ápice é quando em determinado momento do filme – já próximo do ato final, passaram-se cinco anos e dois personagens discutem algo que não faz sentido algum e você se pega pensando: “Depois de cinco anos eles resolveram ter esse diálogo questionando essa situação? Sério?!” – “Ah, para de ser chato” – vocês podem dizer isso, mas não sou, pois o diálogo é pobre e só existe para tentar criar uma empatia do telespectador pelos personagens e eles falham miseravelmente em fazê-lo. E ainda no segundo ato do filme um personagem é inserido na trama e assim que entra já fica previsível o que irá se desenrolar mais adiante e principalmente por – pasmém! – ele falar algo que evidencia o seu próximo movimento minutos depois. E isso se torna cansativo demais.
Para finalizar, busca-se entender como um filme com pessoas competentes ganha um atestado de desleixo desses, pois tecnicamente falando ainda é possível dizer que ele cumpre seu papel, mas o restante não, e isso decepciona, não sabe-se se tem dedo do produtor no roteiro, direção e afins, mas sabemos que a mensagem – se existe uma – ela não é passada e no fim das contas era melhor ter ficado na caixa mesmo.
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