Capitã Marvel empodera e traz sangue novo, mesmo com direção fragmentada

Desde o seu início no ano de 2008 com Homem de Ferro, o universo cinemático da Marvel carecia de uma personagem feminina que encabeçasse uma de suas produções, mas parece que o estúdio tinha receio em fazê-lo. Tanto que a introdução da primeira personagem do universo – A Viúva Negra – em Homem de Ferro 2 tratou-se de uma forma bastante estereotipada já que fora tratada como objeto pelo personagem principal e reforçou a já erotizada imagem de Scarlett Johansson, mesmo sendo uma personagem independente e forte – que terá um filme solo em breve – não conseguiu fugir desse estereótipo da objetificação da mulher.

Tendo isso em vista, mesmo com a consolidação do estúdio e sua ascensão como referência na indústria e no subgênero, pudemos ver que eles relutaram em dar lugar a representatividade nas suas produções, tanto que a primeira foi apenas no ano passado com Pantera Negra, com seu elenco 90% preto e o gatilho para tentarem com uma personagem feminina – mesmo que já estivesse planejado antes – foi puxado em 2017, com o sucesso de Mulher-Maravilha que trouxe finalmente um filme estrelado por uma heroína mulher à luz.

Dirigido pela dupla Anna Boden e Ryan Fleck, dupla responsável por Half Nelson e Parceiros de Jogo e roteirizado a seis mãos pelos diretores e Geneva Robertson-Dworet (Tomb Raider: A Origem), o filme segue a mesma fórmula da maioria dos filmes de origem do estúdio – sem narrativa 100% linear e intercalando momentos no presente com flashbacks.

Brie Larson é a personagem título – aqui uma integrante de uma equipe black ops da raça Kree e que tem como inimigo uma outra raça, os Skrulls -metamorfos que tomam a forma que quiserem – e que desde o primeiro minuto de filme nos é mostrado que é atormentada por fragmentos de um passado que não lembra, sendo assim sua jornada é a busca pela sua identidade e seu lugar no universo.

Pouco menos que o primeiro terço do filme se passa no espaço e além de apresentar a personagem também introduz os demais Krees cujo um pequeno desenvolvimento reside somente em um – Yon-Rogg (Jude Law) o mentor dela, os demais são todos unidimensionais, com desenvolvimento nulo e com frases pontuais para tentar fazer com que criemos empatia por eles algo que não acontece, já que pouco nos importamos com eles.

A representatividade no filme é bastante importante, pois traz uma personagem mulher que apenas quer provar que não depende de ninguém para ser quem ela tem de ser, algo que deve servir de espelho para muitas jovens garotas na sociedade patriarcal que vivemos. Mesmo que o desenvolvimento da relação dela com sua família não seja muito bem explorada pelo roteiro. Das cenas de ação presentes no filme poucas empolgam – principalmente as cenas de luta, algo recorrente em alguns filmes de ação atuais, pelos excessivos cortes, falta de compreensão e jogos de câmeras que nos deixam tontos – e infelizmente é um dos pontos fracos do filme, bem como a inserção de músicas de bandas do início dos anos 90 para poder situar a narrativa e em nada contribui narrativamente – como Guardiões da Galáxia o faz bem – e fica parecendo a cena de apresentação de personagens em Esquadrão Suicida, que é deslocada de grande parte da narrativa, já que parece urgente fazer isso para mostrar em que época se passa o filme.

Já seus pontos fortes residem na relação buddy cop entre Carol e Nick Fury (Samuel L. Jackson) e a relação dele com o gato Goose, mas claro que tudo melhora quando as Rambeau entram em cena, a amiga de Carol, Maria (Lashana Lynch) e sua filha Monica (Akira Akbar) são o ponto central que mostra quem é Carol Danvers na verdade e aí reside o grande acerto do roteiro em relação a construção da personagem. Como adaptação de HQ o filme muda alguns personagens e isso não afeta em nada o seu andamento, muito pelo contrário contribui muito para o desenrolar de todo o ato em si, decisão mais do que acertada.

Apesar da direção inconstante – não sei se proposital devido ao estado que a personagem se encontra para tentar se lembrar dos fragmentos de sua vida – e do roteiro complicado em algumas partes de desenvolvimento, o filme é mais um grande passo do estúdio na representatividade que iniciou ano passado com Pantera Negra. Esperamos que num eventual próximo filme os erros e pontos fracos vistos nesse sejam apenas fragmentos de um passado não tão distante.


    • Paula em 14 de março de 2019 às 3:54 PM

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    Ótima resenha!! Parabéns

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