Sangue, suor e lágrimas…na chuva. Em 2049

Blade Runner 2049 é continuação direta do original de 1982 e se passa 30 anos depois do eventos que ocorreram no original. Assim que fora anunciado claro que houve aquela desconfiança – inicialmente seria dirigido pelo irmão de Ridley Scott (diretor do original), o falecido Tony Scott – porém depois de seu trágico falecimento o projeto ficou sem rumo, até que encontraram um nome de peso para assumir a direção, o franco-canadense Denis Villeneuve – que dirigiu a elogiadíssima ficção científica A Chegada e outros filmes de grande peso (como Incêndios Os Suspeitos) e que dividiram a opinião da crítica e público (O Homem Duplicado Sicário), tendo isso em vista pareceu muito fora da caixinha ver seu nome vinculado a continuação de um clássico – que a primeira vista dava a entender que seria apenas mais um blockbuster e seguiria o caminho oposto de seu predecessor. E como sempre acontece, foi um ledo engano.

Por que foi um engano acreditar que ele viria na contramão do original? Porque o filme vem mesmo é na contramão dos atuais filmes-pipoca que vemos aos montes nas salas de cinema ultimamente, Blade Runner 2049 é um filme de ritmo denso e lento, que desenvolve o roteiro de Hampton Fancher Michael Green, seguindo a estória e sua narrativa do modo que muitos não estão acostumados. E Villeneuve sabe bem como conduzir uma narrativa de tal forma.

A primeira metade do filme seguimos (Ryan Gosling) em seu habitual trabalho de limpar Los Angeles dos replicantes da Tyrell Corp. bem como a sua rotina diária, como uma máquina que caça máquinas ele não pode expressar emoções e após uma de suas missões acaba por questionar a sua existência e a partir daí ficamos a mercê daquilo, questionamos junto do personagem se realmente os androides sonham com ovelhas elétricas – como Philip K. Dick usa no título de sua obra aqui adaptada. E nisso o roteiro tem êxito em transmitir para nós espectadores, ratificando o quão insignificantes nós humanos somos neste vasto universo que nos cerca e que ainda assim insistimos em acreditar e agir como se fossemos o centro deste, quando não o somos, a todo instante vemos isso se confirmando na pele de K, por tudo que ele passa no decorrer da projeção, o que é angustiante demais e entendemos plenamente pelo que o caçador de replicantes passa, algo que esta geração – chamada de millenials – não entende agora, mas que a vida se encarregará de mostrar.

Aqui Deckard (Harrison Ford) tem um peso maior que no original e vemos Ford entregar uma atuação emocional até mais forte da que vimos em Star Wars: O Despertar da Força, aqui sentimos e entendemos o porquê dele estar recluso e em determinado momento também sentimos o coração apertar com que o antagonista Niander Wallace (Jared Leto) apronta para ele no início do terceiro ato do filme, é algo louvável e tocante. Mas como nem tudo são flores, o filme peca em seus antagonistas, e o personagem de Leto é pouco explorado nos fazendo compreender pouco do que ele pretende – e isso é triste, pois mostra que o estúdio quer abordar mais disso numa possível continuação, deixando essa ponta solta. Outra personagem que surge apenas como antagonista, mas não tem sua motivação exposta em sua totalidade para nós espectadores, é a replicante Luv (Sylvia Hoeks) que em certo momento se diz “a melhor”, mas sequer fica explícito este comparativo entre ela e K, logo soa como uma fala vazia que parece ter sido colocada a esmo naquela situação. Ao final ficamos com a sensação de que o desenvolvimento incompleto de Wallace é proposital e tem o dedo do estúdio – e do Ridley Scott também – Pois pensam numa conclusão para a franquia, para que nela se possa desenvolver as outras subtramas que deixaram uma incompletude ao final. Em suma, o filme é corajoso por ir na contramão das produções atuais, mas se acovarda ao deixar pontas soltas para que possam concluí-las numa possível continuação. Mas além de tudo o filme é mais um achado neste ano de 2017, pois respeita e é uma extensão da mítica do filme original.

 

Menção honrosa a bela fotografia de Roger Deakins que mescla o tom obscuro, colorido e ainda assim etéreo da grande metrópole, com o sépia árido da cidade devastada, um belo contraste de um dos melhores na sua área, assim como Hans Zimmer honra a trilha sonora etérea e futurista que Vangelis nos apresentou em 1982.

 

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