Desde que iniciaram a reimaginação da clássica franquia Planeta dos Macacos muitos torceram o nariz, pois os originais exploravam o conceito social, de que nós humanos iríamos regredir como espécie, dando lugar aos macacos, uma inversão de valores que vendo como muitos “seres humanos” agem perante a sociedade ultimamente, não está tão distante da realidade.
Tendo isso em vista, esta reimaginação começou traçando um caminho diferente do original, mostrando a origem do ponto de vista científico de que a espécie viria a evoluir em decorrência de uma pesquisa para uma cura para o mal de Alzheimer além de tal pesquisa ter desencadeado o desenvolvimento cognitivo e racional do símio, ela trouxe o revés na forma de uma epidemia que dizimou grande parte da humanidade, a partir daí tudo mudou de figura e após o bem sucedido Planeta dos Macacos: A Origem, dirigida por Rupert Wyatt, tivemos uma continuação, Planeta dos Macacos: O Confronto – dirigida por Matt Reeves (Cloverfield) – e com um tom narrativo diferente do primeiro e mostrando um planeta com escassez de recursos para poder sustentar o que restou da humanidade e focado no confronto entre humanos e símios ali já tivemos uma prévia do que estaria por vir, a tão aguardada guerra iniciada pelo macaco rebelde Koba (Toby Kebell).
Aqui em Planeta dos Macacos: A Guerra, o que os trailers venderam não encontramos – a tão aguardada guerra – que aqui é mais ideológica e pessoal entre Caesar (Andy Serkis) e o Coronel (Woody Harrelson), e é aí que reside a riqueza do roteiro escrito por Reeves em parceria com Mark Bomback, enquanto o primeiro acredita na utopia de que pode haver paz entre as duas raças, o segundo crê que para sobreviver os humanos devem exterminar o símios, e mostrar que a raça que deve manter-se no topo da cadeia alimentar é a dele, e as motivações que ele tem para exterminar e escravizar os macacos são plausíveis, porém condenáveis.
Mostrando a realidade de como o ser humano é e o quão baixo ele pode chegar, o filme nos entrega críticas ao regime escravagista, que mostrou o período obscuro da humanidade e o antagonista vivido por Harrelson é a prova de que o ser humano como “raça superior” falhou e segue falhando, tanto nesta ficção quanto na vida real, já que ao não aceitar que estejam regredindo – chegando ao ponto de não mais conseguir se comunicar – acha que exterminar o “motivo” por sua derrocada seja a solução para os tais problemas – lembrando um certo austríaco que fez algo semelhante durante a Segunda Guerra Mundial. Já os macacos cada vez mais seguem o caminho oposto, mais racionais que seus antagonistas.
Em suma, se você espera ver tiro, porrada e bomba, esqueça. Pois esta reimaginação é muito mais que isso e você pode ter certeza de que o segredo para o sucesso desta franquia, é exatamente o conceito que o roteiro traz para refletirmos acerca do nosso futuro enquanto “raça superior”, que as aspas tratam de dizer o contrário. E por fim, é fantástico ver o quão crível é a captura de movimento que faz os atores assemelharem-se aos macacos e as expressões de Serkis como Caesar, estão mais nítidas e perfeitas, belo trabalho para um belo filme.
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